O que aprendi com meus pais

By | 23/04/2021 8:06 am

(Patos Online, 15/08/2012)

 

A revista Época de 13/08 passado prestou uma homenagem bem interessante aos pais, entrevistando uma série de personalidades nacionais que contam o que aprenderam com os seus pais. A revista me deu a ideia de dizer o que aprendi com os meus pais.

Eu aprendi muitas lições com aqueles dois sertanejos de poucas letras que não chegaram nem a terminar o curso primário. Meu pai não foi além do primeiro livro, embora soubesse frações, percentagem e regra de três compostas, que muitos alunos de hoje terminam o fundamental sem saber. Minha mãe foi até o quinto livro, mas com esta base chegou a professora leiga de primeiras letras. E tinha orgulho em dizer que “desasnara” o Dr. Alcides Candeia, na época em que ela morava na Quixaba, na década de quarenta.

Além de coisas práticas meus pais me ensinaram valores, como o respeito aos mais velhos, cumprir os compromissos, pagar as dívidas assumidas, coisa hoje desconhecida por muita gente.

Mas a maior lição que os dois me deixaram foi o gosto pela leitura. Meu pai lia tudo: revistas, jornais, romances, livros de faroeste. E se encontrasse uma palavra que não conhecia, perguntava a um de nós, seus filhos. Até que lhe dei de presente um dicionário de português vendido a preço popular pelo Ministério da Educação. O dicionário sempre ficava por perto de onde ele estivesse: lendo, ouvindo rádio ou televisão. Se ouvia uma palavra que desconhecia, recorria ao nosso velho pai, “o pai dos burros”. Aos domingos, nos períodos em que morei em Patos, ele ia almoçar comigo e aproveitava para ler os jornais do sábado e do domingo. Durante a semana, ele passava pelo escritório de Virgílio, mais perto de sua casa, e pegava “carona” nos jornais do Guerreiro, com quem também trocava palpites para o jogo do bicho. Permaneceu leitor assíduo até morrer aos 82 anos de idade.

Minha mãe, que tinha mais estudo, talvez tenha influído sobre ele, no gosto da leitura. Ela também lia tudo: revistas de novelas, revistas de atualidades, jornais, almanaques e romances.  Era tão viciada na leitura que já padecendo com o câncer no cérebro que lhe tiraria a vida com apenas cinquenta e quatro anos de idade, nunca deixou de ler, mesmo padecendo dores de cabeça terríveis. Eu me lembro de vê-la ensopando um paninho fino com álcool e envolvendo a cabeça para amenizar as dores e pegar um livro ou revista para ler. Leu até os últimos dias de vida, enquanto pode.

O exemplo deles, sempre lendo, influiu nos três filhos: eu, Leda e Fátima. Como resultado somos todos leitores compulsivos, daqueles que levam um livro ou revista para ler no banheiro. Poucos eram os livros que tínhamos à disposição, numa época em que Patos não tinha biblioteca pública. Mas quando eu fui estudar em Cajazeiras senti-me no paraíso com a bem organizada biblioteca do seminário. Quando não estava nas aulas ou no salão de estudos, eu ia para a biblioteca e ali lia do Tesouro da Juventude, a Enciclopédias e romances. Em seis anos li grande parte da biblioteca do seminário. Fátima foi estudar num colégio de freiras, onde uma tia nossa era diretora, em Timbaúba (PE), e lá aprimorou o gosto pela leitura. Leda teve oportunidade de se aprimorar na leitura, durante os anos que trabalhou na Livraria Nabuco de Oto Quinho.

Graças à leitura nos demos bem em tudo que intentamos na vida. E todos continuamos a ler muito. Fátima sempre dava presente de livros para os sobrinhos. Leda e eu transmitimos o gosto pelos livros para os nossos filhos. Todos são viciados na leitura. E todos estão se dando bem na vida. Leda formou os seus dois e eu já formei quatro dos meus e tenho um quinto quase no final do curso de Medicina. E não tenho a menor dúvida de que o gosto pela leitura foi em grande parte responsável por isto.

Por isso, resolvi homenagear meus pais, revelando o que aprendi com eles. E, ao final uma dica para você pai e mãe. Seu filho pode começar a gostar da leitura lendo revistas em quadrinhos. Com os meus foi assim. Sempre comprava gibis para que lessem. Arlene, que também gosta de ler, chegou a fazer assinatura das revistas de quadrinhos de Mauricio de Sousa para Bruno e Artur lerem. Há bem pouco tempo comprei toda a coleção de Harry Potter que li juntamente com Bruno e Artur. Fazíamos fila. Toda esta leitura tem valido a pena. Para eles e para nós. (LG)

 

 

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Category: Meus escritos

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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