A morte de um batalhador

By | 23/04/2021 8:12 am

(Patos Online, 03/11/2012)

 

Há vinte e um anos comprei minha granjazinha Asa Branca, no município de São José do Bonfim. Encravada na comunidade Malhada de Pedra, a aquisição da pequena faixa de terra, para onde levei meus tios Inácio Paca e Dasdores e meu primo Luiz Paca com a família, fez com que nos integrássemos numa comunidade que nos acolheu com toda hospitalidade. Quase todo mundo lá era parente um dos outros, mas nos receberam como se fôssemos também da família. A doença de alguém era motivo de preocupação e solidariedade. Um acidente atingia não só a vítima, mas a todos que se preocupavam até que a vítima se recuperasse de todo.

Dentro dessa comunidade, a cerca de duzentos metros da nossa casa, morava dona Mariza com toda a família. Dois filhos e três filhas. Todos solteiros à época: José, Dedé, Nega, Maria e Zinalda. Dona Mariza é viúva, mas tocava a vida com a ajuda de toda a família, de que José era o mais velho e dono da casa. Trabalhador, batalhador, buscava sempre uma forma de ganhar um pouco mais para ajudar a família. Chegando a idade de casamento, foi buscar Luzia numa comunidade vizinha e formou sua própria família. Dedé logo cedo foi morar em São José do Egito, onde se estabeleceu no comércio e progrediu. Terminou levando uma das irmãs (Zinalda) e dona Mariza. Nega e Maria casaram-se com Geraldo e Evandro e estabeleceram família lá mesmo na Malhada de Pedra, assim como José que por lá permaneceu.

Com a família crescendo, e as duas meninas já grandinhas precisando de escola, José resolveu ir também tentar a vida em São José de Egito. Lá fez de tudo, até se fixar como mototaxista. Luzia ajudava de sua parte, fazendo serviços diversos para ajudar na manutenção da família. E iam tocando a vida. José, vez por outra, voltava a Malhada de Pedra para rever os amigos e brincar um pouco, afinal ninguém é de ferro. Cada visita sua era uma festa na comunidade, onde todo mundo lhe queria bem e era parceiro das pequenas farras que aprontavam. Na última vez que lá estive com Arlene e Luma, tomamos “uma” com José e outros amigos, enquanto as meninas bonitas de José tomavam banho no tanque/piscina que temos lá, juntamente com Luma que se divertiu muito com as parceiras. Não aguentei o “rojão” da turma e logo desertei, mas eles saíram visitando os amigos e tomando todas.  Como sempre uma brincadeira de amigos e em cada casa a que chegavam havia o tira-gosto pronto e a cachacinha farta.

Esta semana, recebemos a notícia de que José sofrera um grave acidente de moto lá na cidade de São José do Egito. Fora comprar o pão do café da manhã, perdera o controle da moto e fora de encontro a uma pedra onde bateu com a cabeça. Trazido para Patos, foi encaminhado para Campina Grande devido a gravidade do caso. Em Campina Grande ficou na UTI antes de depois da cirurgia a que se submeteu. Ainda na terça-pela manhã, ouvimos notícias alentadoras. Já havia aberto os olhos e reconhecia as pessoas, mas não conseguia falar. Esperávamos que entrasse em recuperação. Na noite da terça, fomos acordados por Nenen, com a infausta notícia de que José morrera. Ficamos esperando a confirmação, que nos foi dada por minha comadre Neta, às seis da manhã da quarta-feira. Dedé chegara de madrugada, direto de Campina Grande, onde junto com Luzia, velavam por José, esperando que se recuperasse. Dedé disse os muitos suspeitávamos. Desde o início a situação do irmão era desesperadora. Houvera afundamento do crânio.

Com apenas quarenta anos de idade, José de Sousa Nascimento era um guerreiro. Lutou até o fim. Para ajudar a mãe viúva, para criar a própria família, para resistir à morte iminente. Daqui a nossa solidariedade a dona Marisa, a Luzia, a Luana, Naiara, Jorge Neto (o Netinho) e Jamerson (o Nininho, filho anterior ao casamento), aos irmãos, cunhados e sobrinhos de José de Marisa. E também a dona Raimunda de Duca, espécie de mãe e avó das crianças com quem ficaram durante este transe final e que certamente será um esteio para todos. Que fique de José o seu exemplo de filho dedicado, marido amoroso, devotado pai de família, irmão sempre pronto a ajudar e amigo dos amigos. Com um abraço, meu, de Arlene, de Luiz Paca, comadre Neta, Pedro Neto, Lucinha e toda a família. Que todos perdemos um grande amigo, um quase irmão. (LG)

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Category: Meus escritos

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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