Para facilitar o trabalho do STF (com comentário nosso)

By | 29/10/2023 8:38 am
Imagem ex-librisO Estadão informa que está em estudo no Congresso a aprovação de uma medida para limitar a atuação de partidos pequenos no Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo é impedir que partidos nanicos, com poucos representantes no Legislativo, recorram ao STF para invalidar atos do Congresso. Trata-se de excelente iniciativa, apta a corrigir abuso cada vez mais frequente, que perverte o funcionamento do Estado Democrático de Direito: o recurso ao Judiciário como meio de reverter a derrota política.

Segundo o relator de um das propostas, deputado Alex Manente (Cidadania-SP), a ideia é limitar a apresentação de ações diretas de inconstitucionalidade (Adins) e de ações diretas de descumprimento de preceito fundamental (Adpfs) aos partidos que superarem a cláusula de desempenho eleitoral. Se a regra for adotada, 16 legendas ficariam impedidas de propor essas ações no Supremo.

A medida restritiva é legítima. Ciente de que se trata de uma ação com alto impacto político – afinal, é um controle sobre a atuação do Congresso –, a Constituição limita quem pode propor as chamadas ações de controle concentrado de constitucionalidade. Entre os autorizados, estão o presidente da República, a Mesa do Senado e a da Câmara, o procurador-geral da República e “partido político com representação no Congresso Nacional”. Com isso, o legislador constituinte definiu que a existência de barreiras para a propositura dessas ações não é incompatível com a necessária proteção da Constituição.

A limitação de quem pode acionar nesses casos o STF é um meio de proteger o funcionamento do Estado Democrático de Direito. Ela representa um respeito ao âmbito do Legislativo, assim como evita que a Corte constitucional seja entulhada por ações de controle de constitucionalidade, revisando todos os atos do Congresso. Como é natural, toda decisão legislativa gera descontentamento em algumas pessoas e grupos. Sem uma barreira para a propositura dessas ações, quem não gostou da decisão sempre poderia buscar o Judiciário para reverter a derrota.

Aqui está o grande ponto. Os 35 anos da Constituição mostram, com abundância de exemplos, que a barreira originalmente prevista tem sido insuficiente para prover o objetivo pretendido. O STF tornou-se revisor de praticamente todos os atos do Congresso, sendo continuamente acionado por partidos nanicos, com baixíssima representação popular. Há legendas, como a Rede, cuja atuação mais destacada é no Judiciário, e não no Legislativo. Entre outros danos, isso agrava o problema da representatividade do regime democrático, ao impor à população políticas públicas ditadas por minorias, simplesmente em razão de sua habilidade em acionar a Justiça.

É muito oportuno, portanto, que o Congresso estude o tema, com medidas concretas para enfrentar um problema real, que distorce o funcionamento da política. Sem limitar ou interferir na independência do Judiciário, essa barreira aos partidos nanicos pode ajudar a recolocar o controle de constitucionalidade no devido prumo.

Comentário nosso

Embora o fato de ser um partido maior não queira representar um partido mais qualificado, basta ver o verdadeiro balcão de negócios manejado no Congresso, pelos grandes partidos, o mau uso do recurso ao Supremo Tribunal Federal, é um abuso que deve ter alguma forma de limite e este talvez seja um dos poucos possível. O recurso ao STF é constitucional, mas o seu uso no varejo termina criando um contrasenso. Fazendo com que a minoria possa derrotar a maioria, o que vai contrariar o próximo sentido democrático. (LGLM)

Comentário

Comentário

Category: Últimas

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *