SEU INÁCIO E O ARMAZÉM DO LEÃO

By | 11/07/2021 8:39 am

José Romildo Sousa, Escritor, poeta, historiador e consultor cultural

A cidade de Patos sempre convergiu, até mesmo pelo seu posicionamento geográfico, uma grande quantidade de pessoas vindas de outras localidades paraibanas e até mesmo de Estados vizinhos com a finalidade de aqui exercerem as suas aptidões comerciais. E não foram poucos os que contribuíram de forma substanciosa com o crescimento econômico da Morada do Sol.
Um destes comerciantes foi Inácio José da Silva, natural do antigo Distrito de Pocinhos, pertencente ao município de Campina Grande (PB), nascido a 11 de dezembro de 1917, Filho de José Francisco da Silva e Luzia Maria da Silva.
Inicialmente Inácio trabalhou como balconista de uma mercearia pertencente ao Sr. Antonio Galdino, na sua terra natal. No ano de 1934, Antonio Galdino veio para a Rainha do Sertão, para estabelecer-se no ramo de estivas e cereais, tendo Inácio o acompanhado para se manter na mesma função.
Em Patos, Inácio casou-se no ano de 1938, com Maria Figueiredo Silva (1922-2011), conhecida por Mariinha, filha de Manoel Ferreira Costa e Petronila Ayres de Figueiredo.
No ano de 1938, Seu Inácio montou seu próprio estabelecimento comercial – o “Armazém do Leão”, como atacadista, na rua Solon de Lucena. A Loja era identificada com a imagem de um grande leão no seu frontispício, trabalho realizado por Zezinho Pintor.
O Armazém do Leão fornecia mercadorias para pequenos comerciantes da cidade e da redondeza, dispondo de uma camioneta Chevrolet para pronta entrega, que tinha em ambas as portas uma figura da cara de um leão.
Inácio sempre contou com a eficiente ajuda da sua esposa – Dona Mariinha, no seu Armazém. Ela era muito benquista pela sociedade local, tendo participado ativamente das atividades sociais e religiosas, da Igreja Nossa Senhora da Guia.
Seu Inácio ficou a frente do seu empreendimento até 1971 quando veio a falecer. Deste momento em diante, o destino do Armazém do Leão que já funcionava na rua Pedro Firmino passou a ser assumida pela viúva, tendo como gerente Diraldo Figueiredo de Lima.
Diraldo teve inclusive no Armazém do Leão seu primeiro emprego como vigia do estabelecimento nos dias de feira. Com a morte de Alcides Gomes de Lima em 1958, que era o seu genitor, ele passou a condição de funcionário permanente. E, no ano de 1972, adquiriu a firma.
A empresa ainda funcionou na rua Leôncio Wanderley, mais conhecida pelo nome de “O Leonzinho”.
O Senhor Inácio José da Silva pelo importante trabalho empreendido na cidade de Patos foi agraciado com o Título Honorífico de Cidadão Patoense, de acordo com a Lei Municipal nº 724-64. Também seu nome foi escolhido, conforme Lei Municipal nº 1.067-74, para nominar a rua que fica situada no cruzando dos Bairros de Santo Antônio e Maternidade.
E TEM AQUELA….
Um fato realmente pitoresco aconteceu envolvendo a Casa dos Retalhos e o Armazém do Leão, ambos instaladas na rua Solon de Lucena. Contam que num determinado dia, um freguês estava por conta com Seu Moura. E a todo momento repetia: Casa dos Retalhos! Saio lá do fim do mundo, chego aqui e cadê retalhos?!…Casa dos Retalhos e não tem retalho. E Seu Moura, proprietário da Loja a dar as mais variadas explicações, desculpas e nada. E o cliente: Perder meu tempo, meu dinheiro, minha viagem. Que prejuízo! Casa dos Retalhos e não tem sequer uma tira da padronagem que eu preciso. Não aguentando mais o “moído”, Seu Moura chamou o inconformado freguês até a porta da sua loja e, apontando para o Armazém do Leão foi logo dizendo: O senhor está vendo aquele armazém ali? Me faça um grande favor: Vá lá e peça um leãozinho daquele a Inácio. Traga-o aqui, que eu lhe pago em dobro o preço que lhe for cobrado. Assim, o amigo saí do prejuízo.
Nossa opinião
Este eu conheci de perto. Fui seu funcionário durante três anos (de 1960 a 1963). Era um dos seus “office boys”, junto com Diraldo e Everaldo (Dadá, já falecido), irmão de Diraldo. Meu pai também foi funcionário do Armazém do Leão, de 1958 até se aposentar, no final da década de setenta. Inácio do Leão e dona Mariinha eram adorados pelos seus empregados, pela maneira com que os tratava. Pagava muito bem e ajudava nas precisões, inclusive nas doenças. Eu mesmo, durante o período que lá trabalhei, ali pela altura dos meus 16 anos, enfrentei um problema de saúde que me manteve durante vinte e cinco dias internado no Hospital Regional. Durante este período, toda noite, “seu” Inácio e dona Mariinha iam me visitar, sempre levando alguma coisa, principalmente o que para a gente este coisa fina como bolacha creme craque e maçã. Depois disso, sempre me teve atenção. Na década de setenta como Caixa no Banco do Brasil ele sempre ia para o meu Caixa e se a fila estivesse grande ele deixava o dinheiro que ia depositar e os documentos que ia pagar e voltava mais tarde para apanhá-los. Por estas atenções são duas pessoas de que nunca me esqueci.
Aqui uma correção. O Leãozinho não era filial do Armazém do Leão. “Seu” Inácio o instalou para Clóvis, casado com Terezinha, irmã de dona Mariinha, que morava com o casal desde o casamento.
O Armazém do Leão funcionou inicialmente na rua Solon de Lucena, vizinho à Ação Católica, depois se mudou para a Epitácio Pessoa, onde hoje funciona o Armazém Paraíba, em frente à Prefeitura. Era lá na época em que eu trabalhei, num prédio vizinho a Carvalho Dutra. Depois o Armazém do Leão se mudou para a atual rua Pedro Firmino, ao lado do Mercado Público, vizinho ao Armazém Alvorada. Alí funcionou até o seu fechamento, já na propriedade de Diraldo.
Mais vou acrescentar um episódio daquela época. Zé Pedro, primo de Inácio do Leão, tinha sido caminhoneiro, mas nesta época tinha um motorista que viajava com o seu caminhão. Nas segundas-feiras ele ia ajudar no balcão do Armazém do Leão. “Seu” Inácio, em sociedade gostava de um wiskey, mas na realidade adorava uma pinga. E sempre tinha lá canto do balcão, uma garrafa de Pitu, Serra Grande ou Paturi. E Zé Pedro sempre ia lá no cantinho do balcão tomar umas bicadas. Um dia, dona Marinha ia passando e viu Zé Pedro Tomando “uma”. Sem nem parar deu um conselho a Zé Pedro. Acaba com esta cachaça, Zé. Zé Pedro responde “na bucha”: Não tem jeito não, Mariinha, quanto mais eu bebo, mais Inácio abre outras! (LGLM)
  • Um internauta, em comentário à matéria me cobrou referência a Pedro Virgínio de Araújo. Não era possível falar de todo mundo com quem convivi naquela época no Armazém do Leão. Mas tenho excelentes recordações da época em que seu Pedro foi nosso gerente. Depois da saída dele foi que um novo gerente implicou porque eu estava saindo antes do fechamento das portas, porque tinha umas aulas no Estadual no final da tarde. Foi, aliás, por isso que resolvi sair do emprego. Seu Pedro, inclusive era pai de dois amigos meu, Zé Virginio e Irenaldo que foram colegas meus no seminário. E Terezinha ainda hoje é minha amiga. (LGLM)

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Category: Memórias de Patos

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

2 thoughts on “SEU INÁCIO E O ARMAZÉM DO LEÃO

  1. Alexandre Melo

    Muito boas recordações, porém não mencionou seu Pedro Virginio que também trabalhou por um bom tempo lá no Leão, e sendo ele figura cativa e bem quisto, merecia um espaço nesse texto.

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    1. Luiz Gonzaga Lima de Morais Post author

      Não era possível falar de todo mundo com que convivi naquela época no Armazém do Leão. Mas tenho excelentes recordações da época em que “seu” Pedro foi nosso gerente. Depois da saída dele foi que um novo gerente implicou porque eu estava saíndo antes do fechamento das portas, porque tinha umas aulas no Estadual no final da tarde. Foi, aliás, por isso que resolvi sair do emprego. Seu Pedro, inclusive era pai de dois amigos meu, Zé Virginio e Irenaldo que foram colegas meus no seminário. E Terezinha ainda hoje é minha amiga. (LGLM)

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