(Mísael Nóbrega de Sousa)
Alexandre Marinho era voz e violão. Morreu depois de ficar doente. Para a morte, basta um desmazelo. Não adianta se esconder; o importante é se revelar. Não se intimidar; ousar. Não sentir pena de si mesmo, ser autoconfiante.
Conheci Alexandre no auge de sua mocidade. Um homem de vigor: Trabalho, casamento, método e arte… Depois: – descasou-se; desempregou-se; perambulou-se; desamparou-se…
– É bem verdade que ele tentou. Revés sobre revés.
– Em cada corda do violão, uma nota falsa: dor, amargura, solidão, fadiga, vigília, saudade.
Alexandre dedilhou seu último solo, dia 13, por volta das três horas da tarde. Um domingo inclemente e cheio de pesadelos… – num setembro de 2009. Não mais entoado, como sempre fora, dissera-me por telefone, poucas horas antes de morrer, que “estava tudo bem”.
Alexandre não se importava mais com nada. Porém, quando debruçado sobre o violão… Era, um inspirado!. Pena que não aproveitou tanto. Pena, não… Tristeza.
Qual canção solfejar para Alexandre traíra? – Um samba? Uma Bossa? Um baião? Um frevo? Um forró? Um choro? –
“Gastei tudo em fantasia/ era tudo o que eu queria/ e ela jurou desfilar pra mim/” – “Fundamental é mesmo o amor/ é impossível ser feliz sozinho/” – “Eu vou mostrar pra vocês/ como se dança um baião/” – “Olinda/, quero cantar/ a ti/ esta canção/” – “Luiz/ respeita Januário/ Tu pode ser famoso/ mas teu pai é mais tinhoso/ e com ele ninguém vai/” – “Ai/ quem me dera ter um choro de alto porte/ Pra cantar com a voz bem forte/ E anunciar a luz do dia”.
Violão que se ensina mais fácil em tablaturas; que emite através das cordas pulsadas, também, chamadas de primas e bordões: os acordes, os tons, os semitons…
– No pentagrama: as cinco linhas paralelas que compõem a partitura e, ainda, as escalas, as cifras, as letras… – Claves, compassos, bequadros, pautas, armaduras, contrapontos;
Na voz: as cordas vocais, as vibrações, as cartilagens, a tonalidade dos sons, o diafragma, as tessituras, os arpejos… – E a postura elegante de quem sabe (em) cantar… – Em solos de melodia, ritmo e harmonia.
Tarraxa, cravelhas, pestanas, braço, trastes, boca, fundo, tampo, cavalete, – de que adianta agora tudo isso? Apenas nomenclaturas (suicidas e) vagas de um violão, primárias – feito o tempo gasto para aprendê-las.
Alexandre Marinho teve uma vida de bemóis e sustenidos. Ora a elevava em meio tom; ora a reduzia.
Mas, como diz Fernando Pessoa: “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Alexandre foi compositor; e, fez o arranjo que podia… – Na sua vida musical.