Mais deputados significam mais despesas e menos vergonha

By | 09/05/2025 1:48 pm

Apesar de parecer um gesto de equilíbrio federativo, o projeto tem um custo real: mais deputados significam mais despesas – salários, cotas parlamentares, assessores, estrutura

 

(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista, professor universitário e poeta, em 08/05/2025)

Misael Nóbrega

A Câmara dos Deputados aprovou, sem muito alarde e em regime de urgência, o aumento no número de cadeiras: de 513 para 527. A justificativa oficial é simples – evitar que estados com perda populacional, segundo o Censo de 2022, tenham também perda de força política e de verbas, já que boa parte dos recursos chega via emendas parlamentares. O Nordeste, por exemplo, seria um dos principais prejudicados. Mas a solução encontrada é, no mínimo, questionável.

O projeto foi acolhido pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, por critério de admissibilidade, mas seguiu direto ao plenário sem que houvesse o debate público necessário. E isso é grave. Apesar de parecer um gesto de equilíbrio federativo, o projeto tem um custo real: mais deputados significam mais despesas – salários, cotas parlamentares, assessores, estrutura. A conta, segundo estimativas, passa dos R$ 46 milhões por ano. E, claro, quem paga o preço dessa “bondade” é o contribuinte.

Não se trata de negar a necessidade de ajustes na representação. O que se contesta é o atalho: ampliar o número de parlamentares sem discutir alternativas – como a redistribuição das vagas já existentes – e, pior, sem pesar devidamente o impacto financeiro dessa decisão. O Brasil precisa de equilíbrio político, sim, mas também de responsabilidade fiscal. O que não se pode aceitar é que se onere ainda mais os cofres públicos com medidas tomadas às pressas, sem que a sociedade sequer tenha tempo de entender o que está sendo decidido em seu nome.

No fim das contas, eu fico me perguntando se estamos mesmo compensando os estados ou simplesmente ampliando o tabuleiro do jogo político? Porque, enquanto eles discutem quantos deputados cabem no orçamento, ninguém quer saber se o brasileiro suporta mais esse arrocho. E assim, no silêncio cúmplice de Brasília, segue a matemática da desigualdade: mais cadeiras, menos vergonha.

Editorial do jornal Notícias da Manhã, da Rádio Espinharas FM de Patos, 97.9, em 8 de maio de 2025.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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