(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista, professor universitário e poeta, em 08/05/2025)

A Câmara dos Deputados aprovou, sem muito alarde e em regime de urgência, o aumento no número de cadeiras: de 513 para 527. A justificativa oficial é simples – evitar que estados com perda populacional, segundo o Censo de 2022, tenham também perda de força política e de verbas, já que boa parte dos recursos chega via emendas parlamentares. O Nordeste, por exemplo, seria um dos principais prejudicados. Mas a solução encontrada é, no mínimo, questionável.
O projeto foi acolhido pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, por critério de admissibilidade, mas seguiu direto ao plenário sem que houvesse o debate público necessário. E isso é grave. Apesar de parecer um gesto de equilíbrio federativo, o projeto tem um custo real: mais deputados significam mais despesas – salários, cotas parlamentares, assessores, estrutura. A conta, segundo estimativas, passa dos R$ 46 milhões por ano. E, claro, quem paga o preço dessa “bondade” é o contribuinte.
Não se trata de negar a necessidade de ajustes na representação. O que se contesta é o atalho: ampliar o número de parlamentares sem discutir alternativas – como a redistribuição das vagas já existentes – e, pior, sem pesar devidamente o impacto financeiro dessa decisão. O Brasil precisa de equilíbrio político, sim, mas também de responsabilidade fiscal. O que não se pode aceitar é que se onere ainda mais os cofres públicos com medidas tomadas às pressas, sem que a sociedade sequer tenha tempo de entender o que está sendo decidido em seu nome.
No fim das contas, eu fico me perguntando se estamos mesmo compensando os estados ou simplesmente ampliando o tabuleiro do jogo político? Porque, enquanto eles discutem quantos deputados cabem no orçamento, ninguém quer saber se o brasileiro suporta mais esse arrocho. E assim, no silêncio cúmplice de Brasília, segue a matemática da desigualdade: mais cadeiras, menos vergonha.
Editorial do jornal Notícias da Manhã, da Rádio Espinharas FM de Patos, 97.9, em 8 de maio de 2025.