Naturalizado peruano, novo papa é lembrado com carinho por colegas
Quando um novo papa se apresenta ao mundo, é comum que suas primeiras falas sejam feitas em duas línguas: italiano, a língua franca do Vaticano, e latim, idioma dos rituais da Igreja Católica. Mas Robert Prevost, o novo papa Leão 14, adicionou uma terceira ao seu discurso na sacada da Basílica de São Pedro nesta quinta-feira (8) —e não foi o inglês, língua nativa do pontífice nascido nos Estados Unidos.
“Uma saudação à minha querida diocese de Chiclayo, no Peru, onde um povo fiel acompanhou seu bispo, compartilhou sua fé e deu tanto para seguir sendo a Igreja fiel de Jesus Cristo”, disse Leão 14 em espanhol, idioma que fala fluentemente graças aos seus mais de 20 anos no país sul-americano.
A relação de Prevost com o Peru, que teve início em 1985, é descrita por religiosos que trabalharam junto a ele como carinhosa e aberta.
O arcebispo da cidade de Huancayo, Luis Alberto Huamán, disse à rede de televisão RPP que Leão 14 era próximo dos outros bispos do país e que sempre trabalhou com transparência. “Pelo seu modo de agir, era visível que amava o Peru”, disse Huamán.
O atual bispo de Chiclayo, Edison Farfán, descreveu Prevost como um religioso preocupado com os mais pobres e que se apaixonou pelo Peru. “Gostava muito de cabrito, arroz com pato e ceviche, eram seus pratos preferidos”, disse.
A presidente peruana, Dina Boluarte parabenizou a eleição de Leão 14, escrevendo no X que “sua proximidade com os mais vulneráveis deixou uma marca indelével nos corações dos peruanos”.
Leão 14 chegou ao Peru pela primeira vez três anos depois da sua ordenação como padre da Igreja Católica em 1982. Como missionário da Ordem de Santo Agostinho, da qual é membro, o papa trabalhou em projetos sociais em Chulucnas, no departamento de Piura, segundo o jornal peruano El Comércio.
Prevost deixou o país em 1999, pouco depois de ter sido escolhido para chefiar a Ordem de Santo Agostinho na sua cidade natal de Chicago, nos EUA. Em 2001, seria eleito por seus pares para comandar a instituição a nível mundial —cargo de grande influência que ocupou até 2013, ano da eleição do papa Francisco.
Foi graças ao argentino, entretanto, que Leão 14 teve a oportunidade de retornar ao Peru. Em novembro de 2014, Bergoglio decidiu enviar Prevost ao país sul-americano para se preparar para assumir a diocese de Chiclayo, tornando-se bispo.
Sua nomeação formal aconteceu em setembro de 2015 —a demora aconteceu porque a Santa Sé, em acordo de normalização de relações diplomáticas com o Peru, concordou em somente nomear bispos e arcebispos no país se eles fossem cidadãos da nação andina.
Como bispo de Chiclayo, cidade de 600 mil habitantes e capital do departamento de Lambayeque, Prevost conduziu trabalhos de direitos humanos, aprofundou o contato da diocese com os fiéis e inaugurou projetos voltados à juventude da região, segundo o jornal peruano La República.
Em março de 2018, chegou ao posto de segundo vice-presidente da Conferência Episcopal Peruana, órgão equivalente à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) —um dos poucos estrangeiros de um país de língua não espanhola a alcançar cargo tão alto na Igreja Católica do Peru. Na conferência, dirigiu o departamento de educação e cultura, além de liderar no país os trabalhos da Caritas, organização humanitária da Igreja.