Mais do que uma preocupação moral, o caso envolvendo o ministro da Previdência se tornou uma questão eleitoral
A margem de manobra do presidente Lula para tentar vencer as eleições de 2026 é bastante pequena. Num Brasil dividido, o presidente tem um eleitorado bastante restrito para disputar os votos. Em geral, formado por gente que não gosta muito nem dele e nem de Jair Bolsonaro. Uma crise como a do INSS, envolvendo o ex-ministro Carlos Lupi, era mais uma sangria que indignava este público que será decisivo no próximo pleito, como foi em 2022.
Uma quadrilha de roubo de dinheiro de idosos não é algo nada popular. Será até o fim utilizada como argumento para que não se vote no Partido dos Trabalhadores, devido aos esquemas de corrupção. A permanência de Lupi até este momento era uma “prova” de que o governo não fazia a coisa certa.

A ascensão do secretário-executivo como titular da pasta não irá ajudar muito. O argumento de que as irregularidades começaram no governo Bolsonaro possui graves limitações. Era alguém lidando com uma goteira há dois anos a dizer que pouco fez de efetivo porque a infiltração era da década anterior. Perda de votos garantida.
Um certo drama de Lula e do governo é que esse pessoal de quem precisa para vencer eleições é bastante exigente. Sobre vários temas. Com relação aos sinais pela democracia, por exemplo. Neste sentido, uma visita à Rússia do protoditador Vladimir Putin, prevista para a próxima semana na Rússia, é mais uma crise encomendada com esse desanimado e desencantado eleitor de centro.
A sorte de Lula é que a aproximação dos prováveis candidatos da oposição com o ex-presidente Jair Bolsonaro o ajuda, no caso desse eleitor. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, por exemplo, quando deixa de lado seu viés moderado para repetir slogans radicais de seu padrinho, é um convite ao voto nulo ou mesmo à esquerda.
O mesmo ocorre no tour escatológico de Jair Bolsonaro em hospital de Brasília, ao transformar sua recuperação de cirurgia num show de horrores com direito a escaras e cicatrizes expostas. Só os mais fanáticos conseguem apreciar tamanha obscenidade que causa horror nas demais pessoas.
A conta é mais ou menos simples. O PT já tem os votos da esquerda empedernida. O PL ou seus futuros aliados contam com os da direita mais radical. Ambos precisam buscar o apoio em outros campos que não são os seus. Mas, por outro lado, são eleitores que não têm nenhuma simpatia por suas ações e ideias.
É triste para o sujeito de centro endossar as ideias econômicas do Partido dos Trabalhadores. É deprimente se juntar à turba que se veste de verde-amarelo para protestar contra o suposto comunismo que toma conta do País. PT e oposição precisam, portanto, moderar seu discurso e mostrar que o radicalismo está no outro lado da trincheira.
Mais do que uma preocupação moral, Lupi se tornou uma questão eleitoral. Seria munição para direita dentro do público aposentado. Tantas dificuldades em manter maioria no Congresso e o anúncio de rebeldia no partido do ex-ministro só deixam a equação mais complexa. Porque até agora, para a parcela minoritária, porém decisiva, só resta votar em quem se considera o menos ruim. Enquanto espera, talvez eternamente, por um candidato de sua preferência que considera viável. Por enquanto, uma espera de Godot. A vantagem é que os Lupis da vida não conseguem prosperar por muito tempo.
Comentário nosso – Estamos “no mato sem cachorro”. Bolsonaro tem mostrado de sobra que não tem nenhuma capacidade para governar o pais. Além de ele e toda a familia serem desonestos, demonstrou ainda que é um inimigo da democracia. Como não surgiu ainda que seja preparado e independente para nos governar, restava a esperança de que Lula conseguisse sucesso no terceiro governo para se habilitar a um quarto mandato. Mas o governo Lula vai de mal a pior. O que nos resta, então. Rezar pedindo a Deus que mande alguém que nos salve de Bolsonaro, Lula e ambas as catervas. Não precisa ser santo. Basta ter um minimo de decência, de independência e de capacidade de administrar. (LGLM)