Com o golpe em curso havia anos, reunião de julho de 2022 foi para colocar ameaças em prática

By | 13/02/2024 8:09 am

Objetivo do então presidente Jair Bolsonaro era colocar o bloco na rua, após repetidos ataques às urnas e à democracia

 

(Opinião de Eliane Cantanhêde, no Estadão, em 12/02/2024)

 

Foto do(a) colunaA fatídica reunião do presidente Jair Bolsonaro com ministros e assessores, no dia 5 de julho de 2022, para determinar que atuassem para desacreditar as eleições, as instituições e os divergentes – portanto, pelo golpe – foi na sequência de anos de “preparativos”, com manifestações de rua, articulações de bastidores e ameaças golpistas do próprio presidente, contra as urnas eletrônicas, e de seus filhos, contra SupremoCongresso e mídia, pilares da democracia. A reunião foi para dar um passo decisivo: por as ameaças em prática, antes das eleições.

Um ano antes, o general Braga Neto, então ministro da Defesa, chamou um importante civil do governo para uma reunião com os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica e mandou um recado para o presidente da Câmara, Arthur Lira, em nome das Forças Armadas e dele próprio: ou as eleições seriam com voto impresso e auditável, à maneira deles, ou não haveria eleições. No mesmo dia, o presidente reverberava a ameaça em público.

Jair Bolsonaro e seus ministros na reunião de junho de 2022
Jair Bolsonaro e seus ministros na reunião de junho de 2022 Foto: STF/Reprodução

O recado foi relatado à época pelas jornalistas Andreza Matais e Vera Rosa, no nosso Estadão, e está aí para quem quiser ler e comprovar que a audácia golpista da era Bolsonaro não era só “desejo”, “intenção”, “bravata”, como insistem grupos bolsonaristas. O golpe foi articulado, sim, inclusive com tentativa de cooptação ou intimidação de personagens-chaves da Câmara, Senado, Judiciário, mídia…

A reportagem, desmentida por Planalto, Defesa, Câmara (como sempre acontece quando a verdade dói) conta que Arthur Lira considerou gravíssimo um recado desses com aval dos comandos militares e foi até Bolsonaro para dizer que iria até o fim com ele, para a vitória ou a derrota, mas não para golpes e suspensão das eleições. A Câmara não abraçaria um projeto desses.

Lira cumpriu à risca: garantiu a votação dos projetos do governo na Câmara e apoiou Bolsonaro nos dois turnos, mas sempre se posicionou contra ataques às eleições e à democracia e foi o primeiro presidente de poder e líder político a, publicamente, reconhecer o resultado das urnas eletrônicas e a vitória do petista Lula.

Assim, a reunião de 5 de julho de 2022 não é apenas vexaminosa, “mais uma dessas” do capitão que grita, fala palavrões e gosta de bancar o machão. Foi muitíssimo mais grave: uma convocação para o golpe, com o que Bolsonaro já dizia em 2018: eleição só vale se eu ganhar, urnas eletrônicas e pesquisas são fraudadas e eu mando e todos obedecem, principalmente generais, almirantes, brigadeiros. Nem todos, porém, se chamam Eduardo Pazuello.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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