O populismo de sempre (com comentário nosso)

By | 31/01/2024 11:01 am
Imagem ex-librisA irrupção de mais um caso de violência na região central da capital paulista, ocorrido na manhã do sábado passado, quando uma loja de materiais eletrônicos foi saqueada por frequentadores da Cracolândia, evidenciou que tanto o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como o prefeito Ricardo Nunes (MDB) estão totalmente perdidos na formulação de políticas públicas inteligentes e coordenadas para acabar com aquela tragédia social, econômica e sanitária – ou ao menos mitigá-la – e revitalizar o centro histórico da cidade de São Paulo.

Passadas as primeiras horas do ataque, Tarcísio prometeu enviar mais tropas da Polícia Militar (PM) em socorro do sr. João Paulo Souza, dono da loja invadida, e de outros comerciantes da região. “Teremos ações de aumento do efetivo para botar mais policiais nas ruas”, disse o governador, anunciando, ainda, a instalação de uma companhia da Força Tática da PM numa das vias que recebem o chamado “fluxo” da Cracolândia.

Ninguém com juízo haverá de ser contra o aumento do policiamento ostensivo numa região que sabidamente necessita de mais policiais para coibir a ação de criminosos. O problema é que o governador teve mais de um ano para planejar uma intervenção mais ampla e duradoura na Cracolândia. Mas, talvez afinado pelo diapasão eleitoral, tudo o que tem a oferecer é a “cavalaria” sob seu comando, para delírio dos que apostam na truculência como a melhor forma de abordagem de um problema muitíssimo complexo cuja solução requer ações multidisciplinares. Força policial, por si só, jamais funcionou e jamais funcionará na Cracolândia.

Talvez sem se dar conta do que estava dizendo, na entrevista que deu a este jornal, o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Jorge Lima, lamentou há poucos dias que “o centro de São Paulo é lindo, mas acabou”. Falando como se não fizesse parte do governo do Estado, ente responsável, portanto, por oferecer segurança a todos os que desejam viver e trabalhar em São Paulo, o sr. Lima reconheceu que, “se criarmos um plano de atratividade, o investidor vem”. Que plano é esse, ninguém sabe. Afirmando estar “doido para ter um hotel cinco-estrelas na região”, o secretário ainda especulou que, “se amanhã abrir cassino no Brasil, cabe um cassino no centro” – como se o degradado centro paulistano pudesse se converter em Monte Carlo apenas pela vontade do governo.

O fato é que, durante a campanha eleitoral de 2022, o então candidato Tarcísio de Freitas colocou o fim da Cracolândia como uma das prioridades de seu futuro governo. A mesma promessa fora feita por Ricardo Nunes quando este assumiu a Prefeitura, em maio de 2021. Fazia sentido. Afinal, cada dia em que a Cracolândia segue como uma espécie de enclave no centro da maior metrópole do País – habitado por dependentes químicos em estágio avançado e por criminosos que exploram sua miséria física e psíquica por dinheiro – é um dia a mais em que parece não haver alguém no comando nem no Palácio dos Bandeirantes nem no Edifício Matarazzo.

Até agora, porém, tanto Tarcísio como Nunes foram incapazes de apresentar aos paulistanos algo remotamente parecido com um plano inteligente para lidar com a Cracolândia em todas as suas múltiplas dimensões – não apenas como um problema de segurança pública. A cada crise na região, o governador limita-se a anunciar o reforço de intervenções policiais que não só estão longe de ser a solução ideal para o problema da Cracolândia, como ainda alimentam a espiral de violência que tem minado, uma a uma, todas as potencialidades de desenvolvimento da região central há mais de três décadas.

Qualquer pessoa de boa-fé entende que a Cracolândia é um problema de alta complexidade, cuja solução demanda a coordenação entre diferentes áreas da administração pública. Mas Tarcísio prometeu resolvê-lo. E não faltam ao Estado que ele governa recursos humanos e financeiros para fazê-lo. Se o governador não quer que sua promessa seja ressignificada como oportunismo eleitoral, passa da hora de apresentar um plano abrangente e definitivo para essa chaga paulistana.

Comentário nosso

Os políticos brasileiros têm demonstrado à exaustão a sua incompetência. O problema da violência no país não é um problema que se resolva apenas com polícia. Ele tem por trás de si toda uma questão social: as drogas, a miséria, a falta de perspectiva para as pessoas, um mundo, enfim de fatores que alimentam a violência. Ou se ataca a problemática como um todo, ou nunca se vai resolver o problema. (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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