CPI da Covid: acompanhe a sessão de hoje com depoimento de Nelson Teich

By | 05/05/2021 3:47 pm

Senadores fazem perguntas ao ex-ministro Nelson Teich nesta quarta, 5, na CPI da Covid no Senado

(Júlia Marques e Adriana Ferraz, no Estadão)

Ministro da Saúde durante apenas um mês, entre abril e maio de 2020Nelson Teich presta depoimento na CPI da Covid nesta quarta, 5, no Senado. No início de sua fala, Teich afirmou que saiu por não ter liberdade nem autonomia para fazer o trabalho necessário no Ministério e pela pressão sobre o uso da cloroquina.Ele criticou a indicação do medicamento para pacientes com covid-19 como “tecnicamente inadequada”. “Não temos dados concretos do benefício”.Segundo Teich, ficou claro que ele não teria autonomia à frente do cargo e essa falta de autonomia ficou evidente em relação à cloroquina.

Veja o calendário de depoimentos de ex-ministros na CPI da Covid no Senado:

04/05 – Luiz Henrique Mandetta. Veja como foi.

05/05 – Nelson Teich

06/05 – Marcelo Queiroga

19/05 – Eduardo Pazuello (depoimento adiado)

 

O ex-ministro Nelson Teich foi indagado pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE) sobre as ações necessárias para reduzir o número de mortes pela covid-19. Em relação à segunda onda da doença, com a desativação dos hospitais de campanha, Teich disse ser difícil prever o comportamento da covid-19, mas afirmou ver falta de planejamento. “O ideal era desativar coisas ociosas, mas que tivesse condições de reativar”, disse 

‘Poderíamos ter adquirido doses em maior quantidade’, disse Teich

Provocado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), o ex-ministro Nelson Teich disse que o Brasil poderia ter começado a vacinação contra a covid-19 antes se tivesse feito compras de risco do imunizante.

As compras de risco são aquelas em que não se sabe ainda se a vacina terá boa eficácia contra a doença, mas assume-se o risco para garantir o imunizante com antecedência. A estratégia foi adotada pelos Estados Unidos, por exemplo.

“Poderíamos ter adquirido doses em maior quantidade”, disse Teich. “Em uma estratégia com foco na vacina teríamos acesso maior e mais precoce à vacinação”, falou o ex-ministro durante depoimento na CPI da Covid no Senado.

Hoje, o Brasil usa principalmente dois imunizantes: a Coronavac e a vacina de Oxford. O Brasil começou a vacinação atrás de países europeus e de nações na América Latina e tem apenas 15% da sua população vacinada.

Senador defende ‘tratamento precoce’; Teich diz não saber por que médicos prescrevem esses remédios

O senador Marcos do Val (Podemos) defendeu o chamado “tratamento precoce”, cuja eficácia não foi comprovada cientificamente. “Tomo todos os dias vitamina D e C. E, nos finais de semana, hidroxicloroquina e ivermectina. Isso foi um médico que me receitou, fui à farmácia e adquiri a medicação. Isso não me impede de ter álcool gel, fazer isolamento social”, disse o senador, citando medicações sem comprovação.

Em resposta, o ex-ministro Nelson Teich disse não saber por que os médicos prescrevem essas medicações.  “É errada essa prescrição.” O senador também questionou as críticas feitas ao governo sobre a demora para a vacinação contra a covid. Sobre isso, Teich disse que o Brasil, de fato, começou depois a vacinação na comparação com outros países do mundo. O ex-ministro apontou que houve um atraso no desenvolvimento da vacina de Oxford, que fez com que o estudo fosse paralisado por um tempo.

Segundo Teich, quando começou a chefiar o Ministério da Saúde a expectativa “era ajudar o Brasil”. “Você só consegue saber exatamente suas oportunidades quando está dentro. Só lá dentro, você entende qual recurso tem”, disse. Indagado sobre ter presenciado casos de corrupção, Teich disse “nunca ter visto nada ligado à corrupção”.

Estadão: Teich diz que pediu demissão por falta de autonomia e pressão para uso da cloroquina

Teich afirmou que sua falta de autonomia e liderança no Ministério da Saúde ficou evidente com a indicação de expansão do uso da cloroquina.  “O pedido específico para sair foi pelo desejo de ampliação do uso da cloroquina. Esse era o problema pontual, mas isso refletia uma falta de autonomia e liderança.”

Segundo Teich, nas vésperas de sua demissão, houve uma fala do presidente Jair Bolsonaro na saída do Palácio do Alvorada, em que dizia que o ministro tem de estar afinado com o presidente.

Fiquei com pena do senhor na reunião da ‘boiada’, diz Otto Alencar

O senador Otto Alencar (PSD-BA) pediu a palavra para dizer que ficou com “pena” ao ver o rosto do então ministro da Saúde, Nelson Teich, no vídeo divulgado de uma reunião ministerial do governo em meados do ano passado  Na ocasião, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, declarou que era o momento de se “passar a boiada” em sua área (com decretos, mudanças de lei) porque a imprensa só estava preocupada em falar sobre o coronavírus.

Alencar afirmou: “Fiquei com pena quando vi seu rosto naquelasituação. Eu sairia naquele mesmo momento. Vi que o senhor não aceitava aqueles palavrões todos. Espero que nunca mais passe por um momento de aperto como aquele. Não é fácil assumir um ministério, ficar menos de 30 dias e sair porque o presidente queria prescrever cloroquina e o senhor não concordava.”

O senador continuou: “Fico vendo colegas que não estudaram Medicina, Química receitarem aqui medicamentos. Como é que se faz isso? Como é que o presidente faz isso? Se ele falar sobre Exército vou respeitar, mas se falar de Medicina, tenha dó”, reclamou.

Governistas e integrantes da bancada feminina protagonizaram um bate-boca que fez o presidente da CPI, Omar Aziz, suspender momentaneamente o depoimento de Nelson Teich. Veja como foi:

Governista tenta tirar o foco de Bolsonaro

Considerado integrante da tropa de choque do governo Bolsonaro, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) mudou o foco das perguntas ao assumir a palavra, dando prioridade a temas relacionados ao uso de verbas federais por Estados e municípios, escopo também da CPI. O parlamentar questionou Teich sobre como se deu esse uso durante a sua gestão, mas o ex-ministro, que passou apenas 28 dias no cargo, pouco pôde detalhar a respeito.

Em seguida, mantendo a estratégia de agir em defesa do governo, Rogério perguntou a Teich se o presidente lhe pediu pessoalmente para recomendar o uso de cloroquina contra a covid-19. O ex-ministro disse que não, assim como também negou que ministros fizessem a mesma coisa – ou seja, pressionassem diretamente pela aprovação do remédio.

Sobre a prescrição da cloroquina por médicos brasileiros, ele ressaltou que ela é “inadequada”. “Existem entidades internacionais consideradas referência que analisam o uso de drogas. Costumo me balizar por elas”, disse Teich. Rogério e o presidente da comissão, Omar Aziz, passaram então a perguntar a Teich se quem prescreve ou incentiva o uso comete crime. O ex-ministro falou em “ação não correta” e explicou que não tem conhecimento jurídico para opinar o que é crime.

Teich diz ver falta de planejamento em relação à segunda onda

O ex-ministro Nelson Teich foi indagado pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE) sobre as ações necessárias para reduzir o número de mortes pela covid-19. Em relação à segunda onda da doença, com a desativação dos hospitais de campanha, Teich disse ser difícil prever o comportamento da covid-19, mas afirmou ver falta de planejamento.

“O que me parece é que faltou planejamento. O ideal era desativar coisas ociosas, mas que tivesse condições de reativar”, disse Teich. Indagado sobre a responsabilidade pela falta de planejamento, Teich disse que “faltou um planejamento do sistema”.

“Uma coisa que notei, essa é uma opinião, é que nunca tivemos necessidade tão grande de liderança e coordenação. O que existia até hoje me parece mais colaboração do que liderança. Minha impressão é que tem de ter mais estratégia e planejamento e tem de ser um movimento do Brasil”, afirmou o ex-ministro.

Teich disse que decreto que liberava atividades teria de ter discussão prévia

O senador Humberto Costa (PT-PE) lembrou que o então ministro Nelson Teich foi surpreendido durante uma coletiva de imprensa com a informação de que o presidente Jair Bolsonaro havia editado um decreto liberando algumas atividades econômicas, como salões de beleza. Questionado se concordava com o decreto, Teich disse que “idealmente, a discussão (sobre o decreto) teria de ser prévia”.

“A forma de fazer poderia ter sido mais estruturada”, afirmou Teich. O então ministro estava ao lado do secretário executivo general Eduardo Pazuello. “Pela reação do Pazuello, acho que ele não sabia (sobre o decreto) também. Tive a impressão de que ele não sabia, nunca aconteceu nada que me apontasse o contrário.”

Teich diz não lembrar da participação de filhos de Bolsonaro em reuniões

Eliziane Gama questionou Teich sobre a indicação de uso da cloroquina pelo governo. Ele disse ter ficado sabendo pela mídia da reunião de Bolsonaro com empresários, em que o presidente teria falado sobre a intenção de expandir o remédio.

O ex-ministro negou também saber de um aconselhamento paralelo sobre a condução da pandemia no governo Jair Bolsonaro.

Teich disse não lembrar se os filhos do presidente Jair Bolsonaro estavam em reuniões para discutir o tema. “Se eles estavam na reunião não foram pessoas com participação ativa, se não eu lembraria.” Na véspera, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta disse que Carlos Bolsonaro costumava participar de reuniões ministeriais no Planalto tomando notas sobre as decisões.

Integrantes da bancada feminina tiveram bate-boca com governistas durante o depoimento do ex-ministro Nelson Teich na CPI da Covid.

Reunião é suspensa temporariamente após bate-boca entre senadores por participação da bancada feminina

No momento em que a palavra seria passada para a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), houve bate-boca entre os senadores. Ela e Simone Tebet pediram garantia de espaço para as senadoras se manifestarem.

Houve resistência de governistas, que não querem direito de fala da bancada feminina na CPI da Covid. Na véspera, já havia ocorrido discussão pelo mesmo motivo. “O que se busca aqui é engrossar o coro daqueles que querem dar peia no presidente Bolsonaro”, disse o senador Marcos Rogério (DEM-RO) .

Omar Aziz chegou a suspender temporariamente a sessão, mas ela foi retomada com o direito de fala garantido à senadora Eliziane Gama.

Teich relata desejo do presidente de ‘ampliação do uso da cloroquina’

Teich afirmou que sua falta de autonomia e liderança no Ministério ficou evidente com a indicação de expansão do uso da cloroquina.  “O pedido específico (para sair) foi pelo desejo de ampliação do uso da cloroquina. Esse era o problema pontual, mas isso refletia uma falta de autonomia e liderança.”

Segundo Teich, nas vésperas de sua demissão, houve uma fala do presidente Jair Bolsonaro na saída do Palácio do Alvorada, em que dizia que o ministro tem de estar afinado com o presidente.

“Teve uma reunião com empresários, em que ele (Bolsonaro) fala que o medicamento seria expandido. À noite, uma live em que falou que esperava a expansão de uso (da cloroquina).” Teich disse, porém, nunca ter recebido uma ordem oficial para ampliar o uso do medicamento.

Ex-ministro da Saúde Nelson Teich presta depoimento na CPI da Covid no Senado.

Para Teich, Pazuello deveria ter ‘conhecimento maior sobre gestão e saúde’

O ex-ministro Nelson Teich comentou o trabalho do general Eduardo Pazuello como secretário-executivo do Ministério da Saúde durante sua gestão na pasta. Segundo Teich, naquele cargo, Pazuello desempenhou suas funções.

“Naquele momento, o mais importante era conseguir atender os Estados e municípios, (atender) as dificuldades que viviam. (O trabalho) estava relacionado à distribuição de EPIs e respiradores. Fez o papel dele.”

Indagado se Pazuello teria capacidade de assumir a chefia do Ministério da Saúde, Teich disse: “Na posição de ministro, seria mais adequado um conhecimento maior sobre gestão e saúde.”

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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