UMA POR DIA… Uma casa em mim* (30/04/2021)
E, logo na entrada, tem um tapete de seixos, que bem juntinhos um ao outro forma um doce de coco. Em segui-da, uma plantação de flor… para cada uma, um nome; para cada nome, um amor. Digo logo, não há cercas. Também não há porta principal. Todas elas, de tão largas, parecem bocas banguelas sorrindo ao me receber. A sala é decorada de coisas de antigamente. Em cada canto, emoldurado, o retrato de um parente. Não pode ser de verdade aquilo que não tem gente. Os cômodos de minha casa são pequenininhos. Mas, não reclamo, imagina… As-sim, nunca me perco. As paredes têm ouvidos é bom também alertar. E elas são de barro que é mais caro que ouro. O alpendre sustenta a mim com suas colunas de fé… E, em cada uma delas, um torno “prá mode armá minha rede”. Nem adianta fingir que é do lugar que mais gosto. No quintal não tem nada. É só para desenhar. Ne-nhum bicho preso, nem mesmo os de cozinhar. Aqui não se come nada que não seja o que a terra dá. Por trás da minha cozinha, jorra uma nascente tão límpida… E essas águas são como as lágrimas que de meu rosto escorriam: sulcam a terra com desprezo, banham as margens dos rios, arrastam troncos de árvores e também os desafios. Sai das pedras, desce a encosta, ganha impulso, corre o trecho e vai bater do outro lado bem perto do fim do mundo. E porque elas nunca voltam, aí parei de chorar. Sim, quase ia esquecendo: os pássaros daqui são meio tolos, pois não desejam ir embora… morreriam de sauda-de. Neles puseram um coração (ao invés de asas) e uma canção de esperança. Por fim o que dizer mais de um lugar onde até a lua vem lhe visitar.