Ministra questiona a exploração de petróleo no Amazonas, mas Lula e o presidente do Senado desejam apressar a empreitada
“O governo tem agido, mesmo em meio a contradições [decorrentes] do fato de sermos uma frente ampla, respondendo às necessidades da agenda ambiental. Você acha que a gente teria reduzido o desmatamento no Brasil inteiro se não fosse o esforço do governo, com 19 ministérios trabalhando junto?”, questionou.
É compreensível e louvável que a ministra tenha preferido evitar o vitimismo depois de enfrentar um inglório embate na Comissão de Infraestrutura do Senado na terça-feira (27) —marcado por manifestações grosseiras de senadores, alguns deles da base governista, contra políticas atribuídas a sua pasta. A situação, no entanto, é mais complexa.
Na sessão do colegiado, Marina contou com escasso apoio de aliados ante intimidações como a de Plínio Valério (PSDB-AM), que declarou separar a mulher, merecedora de seu respeito, da ministra, que não faria jus a ele.
Marcos Rogério (PL-RO), que presidia o evento, criticou o comportamento de Marina e disse que ela deveria se colocar em seu lugar. Após três horas e meia, a ministra deixou a audiência antes de seu encerramento.
É de lamentar que seja esse o nível das altercações no Congresso brasileiro —hoje em dia muito ensaiadas para propiciar a divulgação de vídeos e áudios sem contexto nas redes sociais. O pano de fundo, porém, vai além de boçalidades machistas.
Marina é uma voz isolada do governo no questionamento à exploração de petróleo na Foz do Amazonas, um tema complexo que envolve legítimos interesses econômicos e federativos. Tanto Lula quanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), manifestam o desejo de apressar os trâmites técnicos para iniciar a empreitada.
Na semana passada, o Senado aprovou por ampla maioria um projeto de lei destinado a flexibilizar o licenciamento ambiental. O PT até votou contra o texto, mas o governo liberou sua coalizão para votar como quisesse. Além de um sinal da baixa capacidade de articulação do Planalto, foi uma mostra de pouca clareza da política ambiental.
Há argumentos a serem considerados de lado a lado. Fato é que a decisão precisa respeitar critérios técnicos a serem definidos por órgãos de Estado. Mais do que endossar sua ministra, no que tem falhado, é isso que o governo Lula precisa deixar claro.