Aliados de Bolsonaro desaprovam falta de defesa a ex-presidente e deixam de ir a ato que reuniu cinco presidentes de partidos
Marcada por discurso de tom nacional do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a filiação do secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, ao PP, na noite desta quinta-feira (22), gerou incômodo entre aliados próximos de Jair Bolsonaro (PL).
Para esse grupo, o ato reforçou a projeção presidencial de Tarcísio, impulsionada por líderes de partidos de centro-direita que já teriam desistido de lutar pela restituição dos direitos políticos do ex-presidente, que está inelegível até 2030 por duas condenações da Justiça Eleitoral.
No evento, Derrite foi explícito ao se colocar como candidato ao Senado, justificando que esse é o motivo de seu retorno à legenda —da qual havia saído em 2022. Já Tarcísio, que se coloca à reeleição em São Paulo mas é apontado como presidenciável, disse que o grupo de dirigentes partidários que os acompanhava estava unido e que “quer fazer a diferença”.
“Uma coisa que é importante, que não pode passar despercebida, é o simbolismo desta reunião aqui. É a quantidade de lideranças que nós temos aqui, do Brasil inteiro. Para quem duvida que esse grupo vai estar unido no ano que vem, eu digo para vocês: esse grupo estará unido”, afirmou o governador.
“No momento em que há dúvida, no momento em que tem muita gente lá em Brasília perdida, que não sabe o caminho, e em que as decisões são tomadas de forma casuística, às vezes até de forma irresponsável, tem o grupo aqui que está unido, que sabe o caminho, que quer fazer a diferença.”
O grupo citado por Tarcísio era composto por presidentes nacionais de partidos que estavam com ele no palco: Valdemar Costa Neto (PL), Renata Abreu (Podemos), Gilberto Kassab (PSD), Antonio Rueda (União Brasil) e Ciro Nogueira (PP).
Chamou a atenção, contudo, a ausência de parlamentares bolsonaristas entre os convidados para a cerimônia, realizada em uma casa noturna da Vila Olímpia, zona sul de São Paulo. O local, com capacidade para mil pessoas, estava lotado. De acordo com assessores do PP, mais de 80 prefeitos estavam no local –o partido comanda 47 prefeituras em São Paulo.
Segundo apurou a Folha, o boicote foi deliberado, motivado pela expectativa de que o evento servisse como palanque para Tarcísio. Parte da bancada bolsonarista nem chegou a ser convidada, após sinalizações de que desaprovaria o tom político da celebração.
Integrantes do grupo criticaram o fato de nem Tarcísio nem Derrite terem defendido a anistia aos presos pelo 8 de Janeiro ou criticado a inelegibilidade de Bolsonaro. O governador deve testemunhar em defesa do ex-presidente no processo em que é acusado de liderar uma tentativa de golpe, em análise no STF (Supremo Tribunal Federal).
Um aliado próximo de Bolsonaro afirma que o ex-presidente não decidiu quem será seu indicado caso se mantenha inelegível, mas que a aposta é que será ou Eduardo ou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Apesar de todo o suporte que já tem na centro-direita, Tarcísio não tem o apoio do padrinho para a Presidência, segundo este aliado.
Há duas semanas, o mesmo grupo já havia demonstrado insatisfação com a articulação do ex-presidente Michel Temer (MDB) para formar uma frente de governadores de centro-direita, sem Bolsonaro, com vistas a 2026.
Na ocasião, Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro, publicou em rede social que eleição “é voto” e que os votos estão com o ex-presidente.
Para bolsonaristas, porém, embora Derrite tenha se lançado ao Senado, o peso político do evento, marcado pela presença de cinco presidentes de partido, deu à cerimônia ares de pré-lançamento ao governo, caso Tarcísio dispute a Presidência.
Ciro Nogueira, ao falar com jornalistas na chegada, não descartou a possibilidade, dizendo que, sem Tarcísio, a legenda defenderia a indicação do secretário. “Aí, o Derrite deve ser candidato ao governo. Nós vamos defender isso, mas é lógico que é uma construção”, afirmou.
Tanto Ciro quanto o presidente Valdemar, do PL, mantiveram aberta a possibilidade de Tarcísio concorrer à Presidência.
“Os governadores de São Paulo sempre erram ao serem eleitos: querem logo disputar a Presidência e se colocam como candidatos”, disse Ciro, para completar: “E é por isso que talvez o Brasil vá chamar o governador Tarcísio de presidente muito em breve. Ou agora ou em 2030. E quem vai decidir isso é o povo de São Paulo e o povo do Brasil. Mas pode ter toda a certeza: se houver essa decisão, governador, tanto o União Brasil quanto o Progressistas estarão ao seu lado.”
Já Valdemar afirmou que também aguarda uma definição sobre a situação eleitoral de Tarcísio. “Nós temos que ver o que o Tarcísio vai resolver para que a gente possa resolver a nossa vida.” Mas o presidente do PL destacou que “quem vai dizer quem será o candidato a presidente é o Bolsonaro. Por quê? Porque ele é o dono dos votos”.
Comentário nosso – Se Tarcísio Dias “desmamar” de Bolsonaro, será um fortíssimo candidato a Presidente da República, principalmente com derrocada do Governo Lula que só pensa em reeleição e esquece de governar o país. O Brasil está precisando de quem o governe de verdade, ao invés de só pensar em reeleição como tem acontecido nos dois últimos governos. Aliás está aí mais uma prova de que a reeleição não é interesssante para o país e temos que acabar com ela. (LGLM)