O general que parece sepultar com seu depoimento toda uma época de golpes, rebeliões e ditadura

By | 21/05/2025 6:57 am

Se é verdade que na política os juízes podem não ser inocentes, assim como os acusados e as testemunhas, também é que o depoimento de Gomes desnuda a República em seu labirinto

 

(Marcelo Godoy, no Esstadão, em 20/05/2025)
Foto do author Marcelo GodoyDiante do gigantismo do espetáculo que se começou a encenarem em Brasília, é possível relembrar o filósofo francês. Cada vez que Alexandre de Moraes interpelava o general Marco Antonio Freire Gomes, o magistrado despertava na audiência a impressão de estar diante de um Andrei Vichinski, o implacável acusador de Bukharin. Mas se é verdade que os juízes não são inocentes na política, os acusados – e as testemunhas – também não são. É o que, no fim, mostrou o depoimento do general.

Ao sentar-se como testemunha de acusação em um processo sobre uma tentativa de golpe de Estado depois de ter comandado o Exército, o general parecia encenar o fim de uma época, como o Bolívar descrito por Gabriel García Márquez em O General em seu labirinto. Ao publicá-lo, o escritor foi acusado de desnudar o general, de apresentá-lo humano demais, enquanto viajava pelo Rio Magdalena, recolhendo os passos de sua vida. Não só de sua carreira. Freire Gomes tratou ao sentar-se diante de Moraes. Fez mais: sem querer, visitou a história da República.

A cada momento em que o general reafirmou o que dissera em depoimento à PF, desnudando a ação de Bolsonaro ao buscar envolver o Exército na trama golpista, toda uma época republicana parecia se fechar em uma viagem até Santa Marta, deixando para trás o tempo em que o Poder Militar e parte de seus integrantes imaginavam julgar e corrigir o Poder Civil. Tempo de rebeliões armadas, de golpes de Estado e de ditaduras.

General  Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército
General Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército  Foto: Marcos Corrêa/PR

Freire Gomes pôde parecer pouco enfático em relação a dois dos réus: Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, e o almirante Almir Garnier, ex-chefe da Marinha. Afirmou que este demonstrou lealdade a Bolsonaro, o que significaria apoio à ordem do golpe. Quem acha pouco seu depoimento não compreendeu o alcance do processo para a história do País e continua a tratá-lo apenas da ótica de inocentes e culpados, em vez de visualizar a República desnuda em seu labirinto.

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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