Sertaneja paraibana que passou em 7 universidades dos EUA aprendeu inglês sozinha: ‘vem abrindo portas’

By | 19/05/2025 3:52 pm

Alice embarca em agosto rumo ao sonho de estudar em uma dessas instituições, com uma bolsa integral.

 

(Iara Alves, no Jornal da Paraíba, em 18/05/2025)

 



					Paraibana que passou em 7 universidades dos EUA aprendeu inglês sozinha: 'vem abrindo portas'
Alice durante viagem à Índia. Foto: Alice dos Santos/Arquivo pessoal.

Aos 20 anos, a paraibana Alice dos Santos Araújo Lourenço acumula diversas conquistas acadêmicas. Entre elas, o fato de ter sido aprovada em sete universidades dos Estados Unidos. Antes disso, ela aprendeu inglês sozinha com a ajuda de ferramentas gratuitas.

Atualmente, além do português nativo, Alice fala inglês em nível avançado e espanhol em nível básico.

Mas o caminho até atingir esse nível em línguas estrangeiras não foi fácil e despertou receio na jovem.

“Medo de não desenvolver o idioma a tempo de aplicar para as faculdades naquele ano (2023) e a falta de recursos que poderiam potencializar o meu aprendizado, como um professor particular, por exemplo”, confessou.

Para conseguir o objetivo, ela estudou com materiais, dicionários, aplicativos e projetos gratuitos.

Dessa forma, ela se tornou a primeira da família a aprender inglês por conta própria. Essa conquista é motivo de orgulho para ela.

“Ter desenrolado o inglês vem abrindo muitas portas para a minha jornada acadêmica e profissional, para a minha família e com certeza para as gerações futuras de jovens que eu quero impactar através do ensino tecnológico”, declarou.

‘Dediquei todo o meu tempo a essa jornada’

Em agosto, Alice embarca rumo ao sonho de estudar em uma dessas instituições, com uma bolsa integral e o desejo de transformar a realidades de outras jovens, que assim como ela, apostam na educação para transformar vidas.

As aprovações, mesmo que repetidas por um número expressivo de vezes, não são encaradas como parte da rotina.

“É aquele tipo de acontecimento que leva tempo para a ficha cair. Ainda não parece real. Fora os sentimentos de alegria e superação profundas, reconheço as barreiras quebradas que essa conquista representa para mim, minha família e meu estado”, refletiu.

A jovem nasceu e foi criada em Nova Olinda, cidade do Sertão da Paraíba, com pouco mais de seis mil habitantes. Com a vida inteira no interior, ela conhece as dificuldades para ter acesso ao ensino tecnológico.

“Por isso, quero que essa oportunidade inédita que recebi não seja apenas minha, quero que os frutos dela sejam colhidos por outros jovens paraibanos. Quero que a gente mostre cada vez mais para o nosso Brasil que a Paraíba desenvolve sim jovens talentos em tecnologia”, destacou.

O interesse por estudar no exterior surgiu a partir de dois fatores: o primeiro era a curiosidade por conhecer outros países e culturas. Já o segundo, a descoberta das oportunidades profissionais e acadêmicas disponíveis fora do Brasil.

“Quando percebi que existia uma possibilidade real de estudar fora e viver esse conjunto de experiências, dediquei todo o meu tempo a essa jornada”, reforçou.

Etapas das candidaturas às universidades norte-americanas

O processo de seleção para as faculdades dos Estados Unidos foi desafiador, mas também um processo transformador para Alice. A jornada, para a jovem, começou no ano de 2023, com o auxílio da Academia Latino Americana de Liderança (LALA), que é um programa de colocação universitária.

O processo envolve diversas etapas, como a proficiência no inglês por conta própria, demonstrar impacto por meio de atividades extracurriculares, enviar cartas de recomendação escritas por professores, notas do ensino médio, documentação financeira, uma redação pessoal e redações suplementares.

No primeiro ano de candidaturas, ela foi aceita em quatro instituições. Porém, não conseguiu bolsas que custeassem toda a viagem e estudos. Já em 2024, foram mais três aprovações. Confira na lista abaixo:

2023:

  • University of British Columbia
  • University of Wisconsin – Madison
  • University of Colorado at Boulder
  • Stetson University

2024:

  • University of North Carolina at Chapel Hill
  • University of Wisconsin – Madison
  • University of Connecticut

A escolhida foi a UNC-Chapel Hill, localizada na Carolina do Norte. Nela, a jovem ganhou uma bolsa integral que cobrirá, pelos próximos quatro anos, gastos com os cursos da faculdade, alimentação, computador, viagens de avião e tudo o que for necessário. As aulas começam em agosto deste ano.

“A UNC-Chapel Hill ganhou meu coração por vários motivos, como a comunidade vibrante de Tar Heels, sua localização no centro mais importante de pesquisa, inovação, tecnologia e educação dos Estados Unidos. E o fato da universidade oferecer a combinação curricular ideal para as áreas que desejo seguir profissionalmente”, confessou.



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Carta de aceite em University of North Carolina at Chapel Hill. Foto: Reprodução.

Alemanha, Índia, Itália e Noruega: ‘sempre volto para casa com ideias novas e criativas’

Antes mesmo das aprovações nas universidades norte-americanas, Alice viveu outras experiência fora do país de origem.

2024 – Alice participou do Venetian ESummer, com bolsa de 100%, na Itália. O programa é focado em sustentabilidade e tecnologia. Essa foi a primeira experiência dela em outro país e durou uma semana.

2025 – A estudante ganhou uma bolsa de 10 mil dólares, com a ajuda da The Flight School (Escola do Voo), para viajar o mundo. Desde de janeiro, ela conseguiu viajar para Bangalore, na Índia; Trebur e Kraitchal, na Alemanha; e Eidsvoll, na e Noruega.

Em todos esses países, a paraibana se voluntariou para participar de projetos de tecnologia, educação e cultura.

“Hoje, após já ter vivido em alguns países como a Índia, onde passei dois meses, percebo que essa conexão com o desconhecido é essencial para a formação de jovens líderes visionários e inovadores. Sempre volto para casa com ideias novas e criativas para resolver, de forma incisiva, os desafios da minha comunidade”, destacou.

Pais apoiaram jovem a encarar desafios acadêmicos: ‘minha família me inspira a seguir em frente’

Em toda a caminhada de desafios acadêmicos, Alice recebeu o apoio da família.

“Apesar das condições financeiras limitadas e falta de conhecimento em relação ao processo seletivo internacional, eles me apoiaram entendendo o meu momento de foco e dedicação, sempre acreditando no meu potencial de fazer acontecer”, recordou a jovem sobre a preparação para disputar uma vaga nos Estados Unidos.

Os pais de Alice trabalham de forma informal. A mãe dela atua como empregada doméstica. Já o avô, por quem também foi criada, é carpinteiro.

“Minha família me inspira a seguir em frente de forma humilde, sabendo que o meu valor está na minha educação e caráter”, destacou.



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Alice durante viagem à Índia. Foto: Alice dos Santos/Arquivo pessoal.

Estudar tecnologia é uma paixão: ‘converter o meu conhecimento em soluções’

Estudar tecnologia é uma das paixões da vida de Alice, que começou quando ela era aluna do Instituto Federal da Paraíba (IFPB). Na instituição, a estudante participou de pesquisas científicas, projetos de extensão e aprendeu sobre programação.

“O que me fez realmente apaixonada por tecnologia foi a possibilidade palpável de converter o meu conhecimento em soluções para problemas reais da minha comunidade. Pra mim, não tem felicidade comparável aos momentos em que seus programas funcionam, você testa, faz os ajustes necessários e finalmente vê aquela aplicação melhorando algum aspecto da rotina da sua comunidade”.

Para o futuro, após se formar, Alice quer trabalhar com inovação em educação tecnológica e empreendedorismo social. E para isso, ela sonha grande, assim como as conquistas já alcançadas.

Alice quer se tornar a CEO da edtech – empresa que usa tecnologia para desenvolver e oferecer soluções no segmento da educação, buscando melhorar a experiência de ensino e aprendizagem – mais inovadora e acessível da América Latina. Além disso, ela também busca ser a líder do maior ecossistema de apoio a meninas de baixa renda em regiões interioranas e periféricas da América Latina.

Comentário nosso – Alice (nome da minha próxima neta) está no caminho certo. “Quem bota pobre para a frente é topada e estudo”. O que seria de mim, garoto pobre que precisou ir para um seminário para ter oportunidade de estudar, se não fosse o estudo, que me levou no fim da vida a duas aposentadorias suficientes para uma vida confortável. Não existe riqueza maior do que o estudo. Cujo resultado ninguém lhe tira. Meus pais tinha pouco estudo, não foram além do curso primário. Mas sete dos oito netos estão formados, todos encaminhados na vida com bons salários. Esta é a grande riqueza da nossa familia. Enquanto isso, tem filhos de fazendeiros da minha infância e adolescência que pouco subiram na vida, justamente porque esnobaram o estudo, enganados pelas riquezas das famílias. E exemplos como os nossos são abundantes nos sertões de clima rigoroso e poucas oportunidades. Filhos de pobres bem de vida, filhos de fazendeiros longe da abundáncia em que foram criados.  (LGLM)

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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