
Se avançar, o movimento terá dois méritos especialmente relevantes: de um lado, atender aos clamores de uma parte significativa dos brasileiros que está cansada de Lula e Bolsonaro e dos tempos destrutivos protagonizados por ambos; e, de outro, consolidar o que se espera de uma direita adequada aos novos tempos, democrática, republicana, moderada, qualificada e liberal – tudo o que o bolsonarismo não é. É uma possibilidade, como se disse, difícil e arriscada em razão da arapuca que Bolsonaro montou para os governadores, na qual qualquer liderança que pretenda herdar seus votos precisará estar umbilicalmente ligada a ele e afinada com o bolsonarismo raiz. Como se sabe, o ex-presidente e seus filhos trabalham para que eventuais herdeiros rezem o seu credo com fidelidade absoluta.
O movimento de Michel Temer propõe algo diferente. Engenhoso, sugere que cada um dos governadores leve adiante sua pré-candidatura, sem atacar os demais. Juntos, eles bancariam um programa de governo que represente ideias com as quais o grupo concorda. A definição de quem, afinal, comandaria o programa se daria somente ao longo do primeiro semestre de 2026. Cauteloso, Temer concebeu um calendário que, realisticamente, ao mesmo tempo afasta e preserva Bolsonaro, ao levar a definição de um nome para quando avançarem os desdobramentos do julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal, enquanto simultaneamente evita que a direita trabalhe à mercê do bolsonarismo mais empedernido.
É verdade que, para o bem do Brasil, qualquer candidato da direita deveria cumprir a obrigação moral de condenar o golpismo e o extremismo que Bolsonaro representa. Mas também é verdade que, a essa altura, seria ingenuidade acreditar que o farão sem consequências eleitorais. Foi movido por esse cálculo – indesejável mas, vá lá, compreensível – que o favorito deles, Tarcísio de Freitas, equilibrou-se até aqui entre a enfática defesa do ex-presidente liberticida e a condição de moderado e democrata. Como este jornal já notou, Tarcísio parece ter feito o cálculo de que estar com Bolsonaro não necessariamente tiraria votos do eleitorado anti-Lula e anti-PT, mas afastar-se do ex-presidente o inviabilizaria entre os mais fiéis do bolsonarismo. Candidato ou não em 2026, ele sabe que a direita precisará acenar para Bolsonaro.
Os dois líderes políticos mais populares da história recente, Lula e Bolsonaro foram incapazes de usar sua popularidade para inspirar, em seus governados, como faria um verdadeiro estadista, o reconhecimento dos valores e aspirações comuns que nos unem como brasileiros. Ao contrário, foram hábeis em usar o dissenso como arma eleitoral, obliterando princípios que deveriam orientar a democracia brasileira, como a liberdade política e o pluralismo. O resultado está no sentimento popular: segundo pesquisa Genial/Quaest de março, mais da metade dos brasileiros preferiam um outro nome para liderar o País. Isso não significa, por ora, que haja espaço eleitoral para uma terceira via, mas certamente pede novas escolhas.
Enquanto a esquerda segue gravitando em torno de Lula da Silva, a direita tem a chance, com o movimento proposto por Michel Temer, de não só fortalecer um nome longe do clã Bolsonaro e do radicalismo como também ancorá-lo em torno de um projeto de país. Só em ensejar tal debate já torna importante sua iniciativa.
Comentário nosso – Excelente esta iniciativa do ex-presidente Michel Temer, que esperamos prospere e progrida. O Brasil precisa se livrar desta disputa que não leva a nada: Lula x Bolsonaro. Estão ultrapassados, só pensam nos próprios interesses partidários e não ligam o mínimo para o interesses do pais. Temos alguns bons nomes entre os pretendentes à presidência que podem empolgar o eleitorado, principalmente Tarcisio Freitas (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), além de Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais) e Ratinho Junior (Paraná), que correm por fora. Dentre eles poderemos ter uma chapa altamente competitiva para enfrentar Lula e alguém do clã Bolsonaro se este persistir em lançar candidato próprio. Alías, o surgimento de uma forte chapa de oposição poderá fazer Bolsonaro, inelegível, desistir de querer bancar alguém “tirado do seu bolso”!, para ele manobrar como quiser. O que seria um desastre paara o país. (LGLM)