Municípios brasileiros, inclusive Patos, têm aderido cada vez mais ao modelo das chamadas escolas cívico-militares. Um formato de ensino impulsionado durante o governo Bolsonaro, que ainda recebe o apoio de parlamentares conservadores e parte da sociedade, muitas vezes movida mais pelo desejo de “ordem” do que pelo entendimento do que, de fato, é educação.
Mas o que são, afinal, essas escolas cívico-militares?
Na prática, elas impõem uma gestão compartilhada entre civis e militares, com disciplina rigorosa, fardamento padronizado e regras que lembram muito mais um quartel do que um espaço de construção de saber e de cidadania. O discurso é sedutor: melhorar índices de rendimento, combater a indisciplina, resgatar o respeito.
O que não se diz com a mesma contundência é que os recursos que financiam esse modelo poderiam ser aplicados em escolas públicas tradicionais, que padecem com salas superlotadas, estruturas precárias e falta de professores.
Há uma diferença fundamental entre educação e adestramento. Ensinar a decorar hinos, marchar em fila e obedecer ordens não é formar cidadãos conscientes. É, no máximo, tentar fabricar obediência. E quando a liberdade vira um artigo vigiado, o pensamento crítico corre risco de extinção.
Uma educação de verdade precisa dialogar com a realidade do estudante, promover reflexão, incentivar a criatividade, acolher a diferença. E isso exige investimento, valorização dos profissionais da educação e confiança na escola pública como ela é: plural, viva, democrática.
Optar por um modelo militarizado é, muitas vezes, uma tentativa de maquiar os problemas. Autoridade imposta não substitui o respeito conquistado. E se queremos um lugar melhor, com mais igualdade e consciência cidadã, é na liberdade que devemos apostar – não no controle.
Editorial do jornal Notícias da Manhã da rádio Espinharas FM de Patos 97.9 em 25 de abril de 2025.
Comentário nosso – A nosso ver esta instrução militar deveria ficar restrita às escolas militares, mantidas pelas forças armadas e pelas polícias militares. Estas últimas poderiam abrir escolas regionais em cidades polos, para o curso primário e secundário, por exemplo, levando os alunos para as escolas das capitais, na altura do segundo grau. Enquanto os Estados utilizariam os recursos desviados para estas escolas cívico-militares para melhorar o ensino nas escolas de ensino comum. O dinheiro investido nestas escolas cívico-militares certamente vão fazer falta às escolas tradicionais. Esta “invenção” de escolas cívico-militares pode provocar, no futuro, a frustração de quem se empolgou com a vocação militar e não pode ser absorvido pelas escolas militares e pelas corporações militares. (LGLM)