Os cálculos de Bolsonaro para saber o melhor momento para desistir

By | 10/03/2025 1:39 pm

Se o ex-presidente demorar demais, pode inviabilizar as chances de vitória de um aliado que lhe conceda perdão por uma possível condenação no STF

(Diogo Schelp, no Estadão, em 09/03/2025)

Jair Bolsonaro disse que só morto indica outro candidato para disputar a Presidência em 2026. Ele já errou outras vezes em previsões em que atrelou sua morte ao seu futuro político. Em 2021, em um dos muitos momentos em que flertou com a recusa em deixar o cargo, disse que só encerraria o mandato preso, morto ou com vitória. Não foi preso, não morreu e tampouco foi vitorioso. Optou pelo aeroporto às vésperas da posse de Lula, depois de meses conspirando nos bastidores para precipitar algum tipo de ruptura institucional.

Em 2026, só será diferente em um ponto: é provável que até lá Bolsonaro esteja, de fato, preso. Na melhor das hipóteses, para ele, continuará eleitoralmente morto como está agora, ou seja, inelegível. Ninguém duvida que acabará indicando um candidato para concorrer à Presidência em seu lugar. A questão é quando fazê-lo. Agora ou na última hora? Um dos problemas de Bolsonaro é sua incompetência para tomar a melhor decisão no momento certo quando as variáveis são muito complexas. A sua gestão desastrosa da pandemia é a prova disso.

Jair Bolsonaro, ex-presidente, em seminário do PL em fevereiro
Jair Bolsonaro, ex-presidente, em seminário do PL em fevereiro Foto: Wilton Junior/Estadão

Saber o momento certo de parar de insistir no próprio nome como candidato da direita populista é complexo porque nenhuma das opções é muito boa para Bolsonaro. Se jogar a tolha agora, ele perde a aura de único líder legítimo do seu nicho eleitoral e, com ela, a possibilidade de elevar o custo político de uma eventual condenação por tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes que estão sendo analisados pelo STF. Um líder populista nunca pode deixar de alimentar a ideia de que é insubstituível.

Se, por outro lado, Bolsonaro deixar para a última hora a escolha de um sucessor, acabará criando dois problemas. O primeiro é que haverá menos tempo para trabalhar o nome de sua preferência junto ao eleitorado. O segundo é que isso estimula a fragmentação da direita em diversos pré-candidatos, alguns dos quais já estão querendo demonstrar que não precisam da bênção do ex-presidente. Nos dois casos, o efeito é diminuir as chances de vitória de um candidato endossado por Bolsonaro. A popularidade do atual governo está derretendo, mas Lula ainda é a opção mais viável para a esquerda em 2026. E ainda não surgiu um nome moderado forte o suficiente para livrar o País dos extremos políticos.

 Há um terceiro cálculo a ser feito, caso Bolsonaro reconheça, pelo menos para si mesmo, que não irá recuperar sua elegibilidade e que há uma grande chance de que venha a ser preso. A sua melhor opção, nesse cenário, é que o candidato vitorioso na eleição de 2026 seja alguém que aceite lhe conceder a graça presidencial assim que tomar posse, ou seja, que decrete a extinção de eventuais punições que tenham sido impostas a ele. Mas isso significaria admitir a hipótese de passar pelo menos alguns meses na cadeia e exigiria uma confiança muito grande no sucessor escolhido. Alguém minimamente racional ficaria tentado a pensar que pode ser melhor deixar o mentor na cadeia do que solto, exigindo cargo no governo, fazendo articulações políticas e tomando decisões pelas costas do pupilo. Rei morto, rei posto. Uma alternativa familiar (a esposa Michelle ou o filho Eduardo, por exemplo) parece mais segura, mas um ou uma Bolsonaro do B teria menos chances contra Lula – e daí Bolsonaro continuaria preso.
 Além de afirmar que só morto nomearia um candidato alternativo, Bolsonaro também diz que, se existisse um “motivo justo” para ele estar inelegível, “arrumaria uma maneira de fugir”. Entre a cadeia e o perdão, o aeroporto (após um pedido de asilo em alguma embaixada) parece uma opção cada vez mais factível para o ex-presidente.

Diogo Schelp, jornalista e comentarista político, foi editor executivo da Veja entre 2012 e 2018. Posteriormente, foi redator-chefe da Istoé, colunista de política do UOL e comentarista da Jovem Pan News. É mestre em Relações Internacionais pela USP.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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