O bem-vindo ocaso de Lula e Bolsonaro

By | 03/03/2025 11:05 am

Enquanto Bolsonaro está a caminho do banco dos réus, Lula lida com a decepção e frustração popular. Um calvário que pode deixar órfãos seus eleitores, mas é oportunidade para o País

 

Imagem ex-librisHá um sentimento de orfandade no ar diante do presente frágil e do futuro sombrio reservados aos dois principais líderes que, nos últimos anos, empurraram o Brasil ladeira abaixo de uma divisão nefasta. O presidente Lula da Silva e seu antecessor, Jair Bolsonaro, enfrentam, cada um a seu modo, um julgamento público que pode significar-lhes o ocaso – um calvário gerador de incômoda melancolia na larga faixa do eleitorado que tem se movido por uma mistura de paixões políticas e ódio às identidades adversárias.

Como se sabe, o demiurgo petista se vê às voltas com uma queda profunda de sua popularidade, expressão do descontentamento e da frustração da base que o elegeu, além da insatisfação já duradoura da chamada frente ampla que apostou nele por temor e rejeição ao adversário. Não bastasse a impopularidade, Lula enfrenta ainda um mal maior: a dificuldade crônica de renovar ideias e soluções para o País, fazendo do seu governo uma soma inquietante de velhos projetos para novos problemas.

Já o ex-capitão liberticida, que passou seus anos de mau militar, mau parlamentar e mau presidente insuflando ânimos golpistas, precisará lidar com o julgamento do Supremo Tribunal Federal, acusado que foi de ter cometido os crimes de organização criminosa, tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, entre outros delitos. Somadas, as penas podem passar dos 40 anos de prisão.

Dada a assimetria dos riscos impostos a ambos, não são julgamentos similares, mas seus efeitos, de certo modo, são. Para quem fez carreira dividindo o País entre “nós” e “eles”, não há perspectiva pior do que a perda de força política e a crescente incapacidade de inspirar o presente e o futuro – é disso, afinal, que depende o poder. Pois Lula e Bolsonaro podem passar cada vez mais, isso sim, a representar o passado.

Bolsonaro já poderia ter sido expelido da política desde quando ultrapassou os limites do decoro e da decência ao envergonhar a instituição parlamentar. Poupado, entendeu que não precisava respeitar limite algum – nem legal, nem político, nem moral – e foi em cima dessa ideia que se lançou à Presidência, em 2018, como candidato “antissistema”. E assim gestou um governo conflituoso, irresponsável e desastroso.

Lula retornou ao poder vendendo a falácia de que poderia ser o artífice da reconciliação tão desejada pelos brasileiros, mas tem se mostrado incapaz de fazer jus à missão recebida. As contradições e fragilidades do terceiro mandato são o preço a pagar pelo pensamento envelhecido de um líder e de um partido que se opuseram aos esforços para a estabilização da economia nos anos 1990, hostilizaram todos os governos aos quais fizeram oposição e, uma vez no poder, produziram a mais grave crise política e econômica da história recente do País.

O infortúnio dos dois deve tornar mais difícil a vida das hostes de militantes, mas é uma ótima notícia para um país que perde muito quando seus dois maiores líderes não conhecem outra língua senão a do enfrentamento, estimulam o rancor contra aqueles que consideram seus inimigos e buscam, como populistas empedernidos que são, confundir-se com os mais legítimos interesses do povo.

Se ambos não se recuperarem da crise que os abate, resta saber o que virá a seguir. Otimistas apontam uma boa dose de esperança para o surgimento de novas lideranças – menos personalistas, mais democráticas e plurais, e sobretudo mais capazes de oferecer novas e melhores ideias para os problemas atuais e futuros. Céticos sugerem, ao contrário, que o vácuo de lideranças pode abrir espaço para aventureiros que apostam na antipolítica.

Este jornal acredita na chance de o País virar a página, embora alerte para os aventureiros à espreita. Eis um momento-chave para que o debate público no Brasil afinal deixe de ser intoxicado pelo ódio, que reduz a política ao confronto estéril entre duas visões atrasadas de mundo. Os tempos destrutivos e paralisantes protagonizados por Lula e Bolsonaro podem chegar ao fim, desde que seus eventuais herdeiros não sejam a continuidade do atraso.

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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