Haddad se equilibra entre ajuste fiscal e sucessão de Lula (confira comentário nosso)

By | 31/12/2024 12:48 pm

Dualidade entre a economia e a política já era uma marca na gestão do ministro, mas ganhou destaque nas negociações do pacote de contenção de gastos

(Adriana Fernandes, na Folha, em 30/12/2024)

No comando da política econômica brasileira, Fernando Haddad (Fazenda) equilibra-se na posição de defensor de medidas para ajustar as contas públicas e do político apontado como o principal nome do PT para suceder Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República.

cirurgia da cabeça do presidente e a pesquisa Quaest, colocando Lula e Haddad na liderança de todos os oito cenários testados na disputa das eleições de 2026, acabaram também jogando mais holofotes na direção do ministro.

A dualidade entre a técnica e a política já era uma marca da sua gestão na Fazenda, mas se sobressaiu durante a elaboração e anúncio do pacote de contenção de gastos.

Nas negociações das medidas, Haddad tomou cuidado para não gravar nenhuma declaração dura em defesa dos cortes de benefícios, como o aperto no BPC (Benefício de Prestação Continuada) para idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, e outras medidas impopulares que pudessem ser usadas, no futuro, contra ele por seus adversários numa eventual disputa eleitoral.

A estratégia de comunicação adotada foi concentrar sua artilharia em críticas ao governo Bolsonaro, que segundo ele deixou para o presidente Lula um “Orçamento fake” em 2023. Haddad também culpa a prorrogação pelo Congresso da desoneração da folha de pagamentos e do Perse (programa de socorro ao setor de eventos) por não chegar ao fim deste ano com as contas do governo no azul.

“Teríamos hoje uma situação superavitária pela primeira vez desde 2013. Foi o último superávit primário consistente, porque o de 2022 vocês sabem que foi fake. Foi fruto de um calote, de privatizações açodadas, de caixa com dividendos extraordinários, coisas absolutamente maquiagem contábil”, disse Haddad, no café de fim de ano com jornalistas.

O mesmo argumento foi utilizado no início de todas as últimas entrevistas em que falou do pacote para mostrar a herança de Jair Bolsonaro.

No pronunciamento à nação para anunciar as medidas fiscais, no final de novembro, Haddad assumiu mais o papel do político e menos do ministro da Fazenda. Ele optou por um tom de campanha e evitou usar a palavra corte de gastos, preferindo usar termos como “eficiente” e “fiscal”.

Em vez de sinalizar compromisso com o corte de despesas, focou a sua fala na medida de aumento da faixa de isenção do IR (Imposto de Renda) para R$ 5.000, que beneficia a classe média, a ser bancada pela taxação dos milionários. Uma bandeira do PT e promessa de campanha do presidente Lula.

Diante da forte reação do mercado financeiro, no entanto, foi preciso entrar em campo com o figurino de ministro da Fazenda. Haddad tentou mudar a forma de comunicação do pacote para conter a escalada do dólar, puxada pelas incertezas fiscais.

Para o cientista político e sócio da Tendências Consultoria Rafael Cortez, o principal trabalho de Haddad é o equilíbrio entre esses dois personagens. “É natural essa dualidade pelo perfil de Haddad, que já disputou cargo eletivo, é filiado a um um partido e submetido a constrangimentos políticos”, diz.

Cortez ressalta que Haddad possivelmente é o ministro que mais enfrenta essa dualidade pela combinação dessas características, reforçada pelo fato de que é hoje potencialmente o plano B de Lula para a campanha eleitoral, seja em 2026 ou nas eleições de 2030.

O cientista político destaca que o ministro personifica esse dilema porque tem a pasta que precisa dar subsídio técnico para que as escolhas políticas sejam feitas num governo em que o presidente prometeu desde a campanha eleitoral colocar o pobre dentro do Orçamento.

“Uma parte da dificuldade do ministro em dar sinais mais contundentes é para não arranhar essa imagem. O governo está tão preocupado com o seu capital político, tão inseguro, que em meio ao pacote precisou dar um sinal para a classe média com o anúncio da isenção fiscal do IR”, diz.

No cargo de ministro mais importante da Esplanada dos Ministérios, Haddad tem sido cobrado dentro do governo a explorar os dados positivos da economia real, como os investimentos anunciados pelo setor privado e a pauta econômica (fora das medidas fiscais) que o Congresso entregou.

O diagnóstico é que a Fazenda tem um problema grave de comunicação e está afetando o equilíbrio de forças entre o ministro, que busca controlar as expectativas do mercado, e o “cara da política”, que precisa acomodar as demandas do governo.

Uma das queixas é que Haddad, pelo seu temperamento, assume muitas vezes o papel de quem sempre foi derrotado em vez de reforçar as suas grandes vitórias dentro e fora do governo. Entre elas, a aprovação do arcabouço fiscal, a manutenção da meta fiscal de 2024, aumento de receitas e uma consolidação fiscal de cerca de 1,5 ponto porcentual do PIB (Produto Interno Bruto) nas contas do governo entre 2023 e 2024.

Pilar do pacote, a revisão da política de valorização do salário mínimo foi também uma vitória de Haddad, que obteve consenso no governo para a revisão da regra e passou sem dificuldades no Congresso.

A posição de equilibrista de Haddad tende a aumentar com a proximidade das eleições. O teste de fogo para o ministro já está no radar do mercado: os programas Pé-de-Meia, de bolsa para estudantes do ensino médio, e o Auxílio-Gás.

Para ele, a margem de manobra de Haddad foi se esgotando, e o cenário a partir de agora será muito mais desafiador. “Vai ter uma pressão muito grande para ele entregar resultados de crescimento econômico, de manter o desemprego baixo e agradar à base política do governo”, diz

Na sua avaliação, a questão da saúde do Lula, após a cirurgia, é um componente a mais nessa travessia.

“Ele[Haddad] encontra várias resistências por parte de muita gente do PT. É essa coisa de ele ser chamado de o mais tucano dos petistas…”, ressalta Carazza, que lembra também a preocupação do ministro, por outro lado, em ser chamado de “Taxadd” nos memes das redes sociais. Trata-se de uma referência a pauta da Fazenda de aumento de impostos.

Comentário nosso – O grande drama de qualquer comandante da economia de uma nação é equilibrar a balança entre as despesas e a receita. Como a única fonte de receitas de um país são os impostos, se as despesas aumentam se cria o dilema, para voltar a conseguir o equilibro. Ou se reduz as despesas e aí vai incomodar muita gente, ou aumenta os impostos e aí vai também mexer com muita gente. Para reduzir as despesas vai ter que cortar benefícios de ricos e de pobres, para aumentar os impostos vai mexer principalmente com os ricos. E estes tem uma capacidade de fazer muito mais ruído e desgastar muito mais o Governo. Como ministro da Fazenda, Haddad tem que aumentar a receita e aí incomoda os ricos o que é ruim para quem tem pretensões políticas e incomoda os petistas, por que estão de olho em 2026. Se tenta cortar as despesas vai incomodar meio mundo de gente, o que provocará também desgaste político para si e para o partido. Este o grande dilema de Haddad e do PT. Problemas de saúde e idade tornam cada vez mais desaconselhável uma candidatura de Lula à reeleição e Haddad é o melhor candidato a sucessor de que dispõe o PT. Mas isto incomoda e cria ciúme em setores do PT, que se beneficiam do atual Governo e temem perder espaço com a ascensão política de Haddad. Insistir com Lula, desgastado como estar é um risco, mas muitos preferem correr este risco. Será que vale a pena? Ou é melhor investir em Haddad que mostra ter jogo de cintura como nenhum outro para conduzir a econonia do país. Haddad nos lembra hoje o que representou Fernando Henrique Cardoso para o Governo de Itamar Franco. Domou a economia e fez um governo que deixou saudades. Aliás, organizou a econonia do país de tal forma que deixou uma base firme para os dois mandatos iniciais de Lula. (LGLM)

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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